sexta-feira, 10 de julho de 2009

PRÓXIMOS FESTIVAIS II

Êêita, que esse ano tá melhor que a encomenda.
Consegui entrar também no FENAC (Festival Nacional da Canção).
Acontece em várias etapas.
Vou defender a música Pena de Colibri, na cidade de Formiga, no Sul de Minas.
Que São Gonçalo abençoe.

PRÓXIMOS FESTIVAIS

Tô indo agora em julho pra um festival muito bacana, no Espírito Santo.
A música que defendo é Pena de Colibri.
Festcol, em Colatina. Lá acontece vários festivais... de viola caipira, de rock, dança, e esse aí, da Canção.
Grande abraço ao Dimas, Efrain Maia e Leonardo.
Vou encontrar grandes amigos.
Então, que venha o Festcol.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Matéria - Jornalista Paraná

Uma música caipira ecológica

Disco de Luiz Salgado, mineiro de Uberlândia, apresenta uma 'sina de
cantadô'

Por Ismael de Freitas (jornalista)

O sertanejo, por questão de sobrevivência, é um predestinado a conhecer as nuanças da natureza, seus tempos, estações, manhas e surpresas. Trata-se de um sujeito que reconhece as mudanças e as sente na própria pele, digamos assim, porque acompanha os ritmos dos bichos, das plantas, das águas. Não é a toa que sua arte esteja impregnada desse tema, em alguns momentos exaltando, noutros defendendo, ora alertando, por vezes reclamando.

É, ainda, o mesmo ator que usa os símbolos evocados pelos animais para falar
sobre si mesmo e aos outros, comunicar (algumas) verdades, interferir no cotidiano e valorizar suas práticas ou tentar modificá-las. Para isso, o 'sertanejo', também se serve de parábolas tradicionais, que falam ‘à alma’ de seus iguais, numa linguagem que se aproxima do cotidiano, sem se importar muito com regras gramaticais ou ortografia, o que resulta na completa identificação com seu público e também suscita a nostalgia do homem urbano, descendente da roça, do campo.
Não é de hoje que os problemas causados pela degradação ambiental estão
presentes nas falas, dizeres, poemas, parábolas, histórias e principalmente nas canções sertanejas, mas o tema se mostra com força em trabalhos de “caipiras contemporâneos”, como é o caso de Luiz Salgado, especialmente na música “Carcará, guardião do Cerrado”, do disco “Sina de Cantadô”, lançado em 2008.
O Carcará, ave presente em praticamente todo o sertão do País, já foi retratado
como malvado, valentão, corajoso e cruel por conta de suas preferências alimentares (que incluem filhotes de ovelhas) como na canção “Carcará”, de João do Vale (1933 - 1996): O sertão não tem mais roça queimada / Carcará mesmo assim num passa fome / Os burrego que nasce na baixada / Carcará / Pega, mata e come.
Já na música de Luiz Salgado, a ave aparece como protetora do cerrado, um
imperador que chora ao ver seu “império” destruído pelo “bicho home”. Também é contrastado com o tamanduá que corre na mata em chamas e que é instado a proteger seus filhotes. Os arquétipos sublimam características facilmente aplicáveis aos seres humanos, numa mensagem clara em favor da preservação e em um momento, pelo menos, remete logo às emoções humanas, já que Carcará não chora. O mesmo apelo aparece em trabalhos de outros artistas, como Renato Teixeira, em “Guardiões das Florestas”: Onde homem e natureza / Se juntam na decisão / De sempre honrar nossa gente / E respeitar nosso chão.
Em Luiz Salgado, o Carcará tem como sina voar. Por isso é o guardião do cerrado.
Ele “vive lá no ar”, está no alto, é forte e deve ser um modelo para o tamanduá, que está preso à terra, tem que cuidar dos filhotes e, portanto, está mais vulnerável à ação do homem.
A ave pode ser Deus, pois vigia, é dona da verdade, toma conta do que é seu (o cerrado, seu império). Deus também aparece, mas quase como um coadjuvante, pois é responsável pela sorte do tamanduá. No entanto, parece que a intenção do artista é guardar as características do Carcará como uma missão para o interlocutor, que agora é responsável pela preservação do cerrado, já que é apontado como malfeitor, pois sua espécie, “o bicho home”, é que representa o perigo.
O tamanduá é referência ao que deve ser protegido. Ele tem que correr, senão “a extinção (te) alcança”; os filhotes podem representar o futuro, mas ele vai ter que ser forte como o Carcará para não morrer nem deixar perecer a prole. Qualquer semelhança com o discurso ecológico atual não pode ser mera coincidência.
É comum o folclore utilizar as figuras da natureza e esses símbolos têm um poder comunicacional sintético que fala de vários modos brincando com os sentidos, em parábolas, se escondendo para poder ser percebido mais nitidamente. O ‘cantadô’ tenta colocar suas idéias usando um artifício... falando de figuras folclóricas como o ‘carcará’ e toda sua carga simbólica para alertar sobre o perigo que ‘o bicho home’ representa, através de outro veículo do folclore, a música caipira, com sons do campo e linguagem que privilegia os termos da roça. É o 'líder de opinião' que se mistura, se identifica com
seu público, é parte do processo, não está fora dele, fala entre iguais, sente as mesmas coisas, chora, protege, luta contra a extinção, está no alto e também corre para salvar os filhotes.
Ele também está mais integrado com o mundo, consegue transformar em poesia a vivência de seu povo, conhece melhor o que está ‘fora’ de sua aldeia e sintetiza os temas ‘de massa’, decodificando-os com a intenção de mostrar a quem é atingido pela sua mensagem que existem saberes complexos dominados por seu grupo e legitimando tais conhecimentos. Ou seja, existe voz possível no grupo marginalizado pelos processos comunicacionais de massa e há como alcançar objetivos, digamos, globais, a partir do que é local, agindo pontualmente.
Ouvir a “Sina de cantadoô, do mineiro Luiz Salgado, é um convite à reflexão sobre as ações humanas diante do meio ambiente no Brasil do Século XXI.
O CD foi lançado pela Bequadro Produções, com apoio do Programa Municipal de Cultura, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Uberlândia (MG).

Disco: “Sina de cantadô”. Música, letra e interpretação: Luiz Salgado. Ano: 2008.